“Olhei até ficar cansado
De ver os meus olhos no espelho
Chorei por ter despedaçado
As flores que estão no canteiro”
“Os punhos e os pulsos cortados
E o resto do meu corpo inteiro
Há flores cobrindo o telhado
E embaixo do meu travesseiro
Há flores por todos os lados
Há flores em tudo que eu vejo”
(letra da música: Flores, Titãs)

Algumas pessoas sugerem que a letra da música acima se refere ao sentimento de alguém que tentou ou conseguiu realizar o ato do suicídio. Fato é, que essa “dor sem nome” que muitos relatam, seria o centro do turbilhão que leva uma pessoa a esta medida estrema. Através de alguns meios podemos tentar compreender certas dinâmicas mais evidentes, no esforço de prevenir e minimizar seus efeitos tão devastadores tanto para o indivíduo como para a sociedade.

Jesem Orellana, epidemiologista do Instituto Leônidas & Maria Deane (Fiocruz Amazônia) em recente estudo; relata que o suicídio é um problema visto como de saúde pública, mundialmente disseminado e que figura como importante causa de morte prematura, especialmente na América Latina. Sendo vital conhecer a sua magnitude, distribuição e possíveis razões, visando a sua prevenção. Segundo o epidemiologista, a ocorrência do suicídio pode variar amplamente, dependendo da “dinâmica social, econômica, sanitária e de coesão social, especialmente em momentos de forte instabilidade como em guerras ou pandemias”. (Orellana/Souza 2022)

Os fatores socioculturais e econômicos, especialmente no Brasil, assumem um peso considerável nesta problemática, são eles: o desemprego, perdas financeiras, insatisfação e estresse no trabalho, bem como elevada frequência de sofrimento psíquico e de uso abusivo de substância psicoativa. (Maia/Araújo. 2017) Junte se a isso, a ocorrência da Pandemia; que gerou a necessidade de isolamento e muitas vezes a falta de suporte social, bem como a incidência de conflitos familiares e dificuldades financeiras.

Neste contexto complexo e desafiador, enfatizamos a necessidade do enfrentamento desta problemática de forma multidisciplinar, sendo que os profissionais de saúde necessitam ser capacitados para lidar com a ocorrência, seja na investigação do fenômeno, seja nas intervenções diante da constatação do seu risco.

Entendemos também que o enfrentamento dessa questão tem como pré-requisito uma mudança na maneira como a sociedade enxerga e trata esse fenômeno e que apesar da arte emprestar beleza a um tema tão árido e difícil; como na letra acima, ele deve ser enfrentado com determinação, respeito e conhecimento.

Dagmar da Luz Oliveira
Terapeuta Ocupacional –
Pós-graduanda em Terapia Ocupacional Aplicada a Neurologia pelo HIAE – SP

Maia RS, Rocha MMO, Araújo TCS, Maia EMC. Comportamento suicida: reflexões para profissionais de saúde. Rev. bras. psicoter. 2017;19(3):33-42
Orellana JDY, de Souza MLP. Excess suicides in Brazil: Inequalities according to age groups and regions during the COVID-19 pandemic. Int J Soc Psychiatry. 2022 Aug;68(5):997-1009. doi: 10.1177/00207640221097826. Epub 2022 May 27. PMID: 35621004.

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